Refleti, refleti e refleti.
Doeu demais. Minha ervilha cerebral ficou do tamanho de uma bola de bilhar.
Depois de toda essa reflexão, mudei de ideia, o que raramente me ocorre, pois
só reflito em situações excepcionais: passei a ser contra a divulgação dos
nomes dos funcionários públicos com seus respectivos salários. É muito
perigoso. Cheguei a essa conclusão não só pelo meu colossal esforço reflexivo,
mas também influenciado pelo grito das corporações. Há muito não as via tão
unidas. Vou tentar mostrar os meus argumentos com clareza e transparência. Há
duas razões maiores para não se divulgar os nomes das pessoas: os altos e os
baixos salários. Começo pelos baixos: seria muito humilhante, especialmente
para professores.
Melhor mesmo esconder. Não
se pode expor os governos a tamanha indignidade. Fica mal para nossas as
autoridades provar que pagam tão pouco a X ou Y. É uma questão de Direitos
Humanos universais.
Por outro lado, os altos
salários justificam ainda mais esconder os nomes dos beneficiados. A divulgação
criaria inveja, disputas e desagregação nos ambientes de trabalho. Os chefes
poderiam perder o controle sobre seus subordinados, principalmente sobre os que
nunca aparecem para justificar seus polpudos emolumentos (finalmente consegui
usar essa palavra). De repente, todo mundo ficaria sabendo, sem precisar fazer
demoradas investigações cruzando matrículas e cargos, que Fulano de Tal ganha
uma fortuna para não fazer coisa alguma. Seria desastroso e até antipatriótico.
Pouco republicano. A transparência não pode se sobrepor à ordem e à boa
convivência no espaço laboral. Tudo aquilo que estimula o ciúme, esse
sentimento baixo, deve ser evitado. Sem contar que a divulgação desse tipo de
dado daria argumentos para essas sórdidas campanhas da mídia contra inocentes
ganhadores de medianos salários – parece que, mesmo com penduricalhos, não se
encontrou nenhum acima de modestos R$ 300 mil – mantidos por recursos públicos.
Ainda bem que temos a nossa
Justiça – neutra, imparcial, objetiva e desinteressada – para conceder
liminares bloqueando essa iniciativa malsã de transparência obscena. Dar nome
aos bois extrapola o bom senso. Pode ser considerado revanchismo. É
discriminatório. Sim, claro, isso mesmo, é bullying. Saber o salário de um
deputado ou de um senador é razoável. Ninguém pensaria em sequestrá-los. Como
manter certos parlamentares em cativeiro sem correr risco de extorsão? Agora,
bem entendido, divulgar o salário de um ascensorista de Assembleia Legislativa,
de um chefe de gabinete, de um aspone de alto nível, de um diretor disso ou
daquilo, isso não. Tudo tem limite. Onde vamos parar? Não é mais possível se
ter um alto salário algum cabide de emprego sem trabalhar e sem direito à
privacidade?
Adotar essa regra de
transparência pode ser terrível para o serviço público: haverá uma evasão de
cérebros. Cabides ficarão ociosos. Quem vai querer um carguinho de R$ 60 mil
tendo de comparecer ao emprego e ter seu contracheque exposto na internet? De
fato, como dizem alguns especialistas, o serviço está ficando inviável.
Postado por Juremir em 11 de julho de 2012 - Cotidiano
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